Misoginia monetizada: canais do YouTube ligados à 'machosfera' lucram com conteúdo de ódio às mulheres
- Rafaela Campos da Silva
- há 3 dias
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Jornal O Globo - 14 de abril de 2025
“Seja membro do canal e ajude essa mensagem a se espalhar”. É com frases semelhantes a essas que canais do YouTube ligados à “machosfera” movimentam milhares de reais com discursos que pregam o controle sobre mulheres, deslegitimam o feminismo e reforçam estereótipos de gênero. O lucro advém de doações em transmissões ao vivo, venda de cursos, e-books, assinaturas e publicidades — monetizações estas que, apesar de crescentes, não têm transparência por parte das plataformas e contribuem para a proliferação dos chamados red pills.
Pesquisa feita pelo Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, iniciativa do NetLab UFRJ em parceria com o Ministério das Mulheres, mapeou a existência de conteúdos misóginos em pelo menos 137 canais brasileiros no YouTube. Os canais somam mais de 105 mil vídeos produzidos e têm, em média, 152 mil inscritos.
Cerca de 80% desses canais adotam pelo menos uma forma de monetização, e as lives tendem a ser mais rentáveis. O estudo apontou que, em 257 transmissões ao vivo de oito canais, foram arrecadados mais de R$ 68 mil — um valor médio de R$ 267 por live. No caso da venda de e-books anunciados, os preços ofertados variam entre R$ 17,90 e R$ 397. Além disso, há cursos comercializados por até R$ 2 mil e consultorias individuais com os influenciadores por valores que chegam a R$ 1 mil.