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5 perguntas para Marcio Borges, pesquisador do NetLab UFRJ

Fast Company Brasil - 13 de maio de 2024



Em meio ao desastre causado por enchentes no Rio Grande do Sul, o poder público, a imprensa e a população tiveram que lidar com mais um problema: a disseminação de fake news. A onda de desinformação - notícias como a de que a Anvisa estaria dificultando a chegada de remédios em abrigos ou de que havia exigência de nota fiscal aos caminhões que transportavam doações às vítimas - atrapalha o trabalho de ajuda às vítimas e espalha incertezas.


O ministro Ricardo Lewandowski encaminhou à Polícia Federal um pedido de investigação sobre disseminação de notícias falsas em relação à tragédia. A Secom (Secretaria de Comunicação Social) indicou 13 perfis que estariam espalhando fake news. Em entrevista ao Jornal Nacional, o ministro Paulo Pimenta disse que a intenção do pedido de investigação é coibir fake news criminosas. A jornalista Daniela Lima noticiou na última sexta-feira que o governo criou uma sala de situação para combater notícias falsas sobre o RS, além de ir às big techs.


É nesse contexto que o 5 perguntas desta semana entrevista o pesquisador associado no NetLab, Doutorando em Ciência da Informação e Mestre em Comunicação pela UFRJ, Marcio Borges. O NetLab da UFRJ é um laboratório de pesquisa em internet e redes sociais dedicado a diagnosticar o fenômeno da desinformação e suas consequências no Brasil.


FC - Quem ganha disseminando fake news em momentos de tragédia como esse?

Marcio Borges - Os momentos de tragédia são grandes oportunidades de se ganhar dinheiro através da desinformação. A tragédia deixa as pessoas propensas à uma busca dirigida de informação. Essa curiosidade, movida pela própria natureza humana, envolve desde os sentimentos mais mórbidos aos sentimentos mais nobres, heróicos e solidários. 

Nesse ambiente dramático e caótico ocasionado pela tragédia, a busca pela informação legítima e verdadeira também gera o ambiente perfeito para a distribuição massiva de desinformação. Esse ambiente cria uma audiência pronta para ser capturada e presa às mais diversas narrativas. Então, sim, tem muita gente que procura ganhar às custas da tragédia humana. 


FC - Podemos dizer que a disseminação das fake news é um negócio, certo? E que há gente lucrando com isso.


Marcio Borges - A desinformação explora dois pilares importantes. Ela explora em primeiro lugar a dúvida das pessoas. E a exploração da dúvida é dividida de duas formas: atacando a imprensa profissional, colocando a credibilidade da imprensa em permanente estado de defesa e com isso buscando gerar tráfego e monetização para outros ambientes, capturando essa audiência.

Depois, cria-se um ecossistema novo, de supostas fontes de informação, onde a verdade escondida será mostrada. Então o mecanismo é simples - ataca a imprensa dizendo que tudo é mentira e conduz para outro ambiente onde supostamente tudo é verdade. Essa, em um resumo bem simples, é a maneira de explorar a dúvida. 


O outro pilar é a exploração da credibilidade: aqui entra toda a forma de pirataria de marcas, de imagens de pessoas públicas e de instituições. De que forma isso funciona? Segue um de inúmeros exemplos: se utilizam da imagem de uma pessoa pública de credibilidade, cria-se um deep fake através de IA e pede-se doações para contas que não são reais.


Outro exemplo: usam imagens de instituições sérias, criam-se sites, copiam as marcas e todo o ambiente e criam golpes para que pessoas que legitimamente estão tentando ajudar caiam. Esse exemplo é duplamente perverso porque se utiliza da credibilidade de instituições, empresas, pessoas públicas para aplicar o golpe e quando o golpe acontece ele acaba diminuindo exatamente a credibilidade dessas pessoas, dessas empresas e dessas instituições.


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